
manifesto
Segundo Linda Nochlin, (2016, p.8) “as coisas como estão e como estiveram, nas artes, bem como em centenas de outras áreas, são entediantes, opressivas e desestimulantes para todos aqueles que, como as mulheres, não tiveram a sorte de nascer brancos, preferencialmente classe média e acima de tudo homens.” Transversalmente a essa citação, questiona-se o espaço oculto na história da arte em relação à existência das mulheres artistas, que raramente são mencionadas, e ainda que no ensino elas apareçam em alguma ponta, o fato de terem seus nomes mencionados ao fundo, sempre confundidos com a posição que ocupavam em relação aos homens, como “a amante de Rodin” ou “a mulher de Rivera”, sem a devida credibilidade ao seu trabalho mostra a educação hegemônica de homens brancos condicionada a excluir a questão de gênero e racial e nos leva a uma questão improrrogável: Como dar maior visibilidade às obras de mulheres artistas, que durante anos, foram invisibilizadas pelos registros históricos, além de consideradas menos qualificadas que as figuras masculinas do cânone da história da arte?
Reconhecendo essa escassa visibilidade, o projeto Mulheres Artistas Visíveis inicia com foco no período das principais vanguardas europeias do início do século XX, em uma perspectiva de emancipação social onde construiu-se a grande incoerência do século passado. Teoricamente, este seria um momento de ruptura com os valores convencionais, com as autoridades representadas pelos pais e, em consequência, com o patriarcado, tencionando assim, novas expectativas paras as mulheres artistas. Porém, quando se analisa a história das mulheres participantes dos movimentos, percebe-se que elas aparecem sobretudo como coadjuvantes na vida dos homens, tido como os grandes artistas que encabeçavam os movimentos, além de ser possível perceber a história paradoxal em que as mulheres, são tema recorrente de pinturas, enquanto que, ao mesmo tempo, eram excluídas das academias de arte, enfrentando inúmeros obstáculos para alcançar os mesmos aprendizados dados aos homens. As poucas mulheres que integraram o mercado das artes, também tiveram que desafiar seus contemporâneos, pois eram subjugadas desdenhosamente como amadoras e muitas vezes excluídas ou deixadas a margem dos movimentos artísticos, sendo posteriormente esquecidas pelo relato androcêntrico da história.
O projeto surgiu com o objetivo restabelecer a presença de mulheres artistas cerca de 100 anos depois, propondo uma reflexão sobre a sub-representação, se não completa ausência na narração patriarcal da história da arte, além de ambicionar ampliar o conhecimento do leitor sobre a vida e a obra de artistas que deram enormes contribuições para a arte e foram esquecidas em consequência da misoginia estrutural, causando a falta de pesquisa e notoriedade. Somos uma plataforma colaborativa e para crescer e difundir cada vez mais conteúdo, precisamos de ajuda com pesquisa, curadoria, revisão e tradução. Se você se interessa pela causa, mande um email para nós.
Sabemos que a história ainda reproduz a estrutura misógina, colonial e preconceituosa da nossa sociedade, porém buscaremos sempre trazer referências de mulheres artistas de todo o mundo, de todas os grupos étnicos, de todas as cores, orientações e identidades de gênero para resgatar a história esquecida e construir uma nova forma de conhecer o passado, além de fortalecer a interseccionalidade do movimento feminista. Contudo, é imprescindível afirmar que, inclusive no período do resgate histórico das vanguardas, a história é extremamente excludente, sendo composta majoritariamente por pessoas brancas e europeias, por isso antecipamos nosso pedido de desculpas e objetivamos ser um ponto de transformação dessa história.
