futurismo
O futurismo foi motivado pelo Manifesto Futurista, escrito pelo poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti, marido de Benedetta Cappa (1897-1977), sendo publicado pelo jornal Le Figaro em 20 de fevereiro de 1909, em Paris, na França. Colocando-se contra o saudosismo ao passado e as tradições culturais, intitulando-se contra os burgueses, o movimento propõe a glorificação do mundo moderno e das industrias, em uma exaltação da máquina e da chamada “beleza da velocidade”, onde a preocupação não era pintar um objeto como ele era, e sim captar sua forma plástica, expressando o movimento real e registrando a velocidade descrita pelas figuras em movimento no espaço. A nova atitude estética e política, elogia a técnica e a ciência, mas no próprio manifesto declara: “queremos libertar esse país (a Itália) de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários”, sendo possível, desde então, perceber o tamanho do paradoxo futurista. Existe uma sensibilidade condicionada pela velocidade dos meios de comunicação, e sendo este, um movimento de origem literária, projeta-se como um movimento mais amplo, defendendo a experimentação técnica e estilísticas em todas as formas de arte, envolvendo também a intervenção do debate político-ideológico com a adesão de um grupo de artistas reunidos em torno do Manifesto dos Pintores Futuristas e do Manifesto Técnico dos Pintores Futuristas (1910), sendo ele composto e protagonizado em sua grande maioria por homens.
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E como poderia ser diferente, se nos tópicos nove e dez do Manifesto Futurista, Marinetti declara consecutivamente: “Queremos glorificar a guerra – a única higiene do mundo –, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre, e o desprezo pela mulher.” e “Queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater o moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunistas e utilitárias.” Os futuristas pregavam a "liberdade para a palavra" e seus representantes abusavam de frases exclamativas, insultos e pretendiam acabar com hábitos culturais considerados retrógrados, sendo possível analisar a evidente contradição do movimento futurista, que declara o combate dos velhos valores, mas mantém o antigo menosprezo pelas mulheres.
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É notório as inspirações das pesquisas de cor e nos efeitos de luz do pós-impressionismo divisionista, um estilo de pintura que separa as cores em pequenos pontos ou pinceladas de cor pura, onde o observador a mistura visualmente, assim como nas técnicas das composições cubistas, mas o futurismo italiano é contrário a carga emotiva e a expressão dos estados de alma na arte, sendo a forte politização um traço marcante e distintivo da arte futurista. O movimento é anticlerical e anti-socialista, como revelam os manifestos políticos lançados, além de defenderem a modernização da indústria e da agricultura, do irredentismo (ideologia que defende a anexação de terras com base em teorias de uma identidade étnica ou de uma precedente posse histórica) e de uma política exterior agressiva. Esse nacionalismo exacerbado em uma exagerada exaltação do ímpeto, flerta diretamente com o fascismo, concretizando-se quando vários membros do grupo aderiram ao partido fascista.
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O que parecia um movimento artístico, foi fatal na política, pois as ideias futuristas repletas de idolatria à violência, ao militarismo e ao patriotismo, foram introduzidas nos programas fascistas de Mussolini. Virginia Woolf reitera:
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“Seja qual for o seu uso nas sociedades civilizadas, os espelhos são essenciais para todas as ações violentas e heroicas. É por isso que tanto Napoleão quanto Mussolini insistiam tão enfaticamente na inferioridade das mulheres, pois, se elas não fossem inferiores, eles deixariam de crescer. Isso explica, em parte, a necessidade que as mulheres representam para os homens.” (2014, p. 39).
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Em Futurismo e Fascismo (1924), o precursor do movimento futurista, reúne discursos em que apresenta o futurismo como parceiro ideológico e anunciador do fascismo italiano. Justamente aqueles que Marinetti inspirava com sua nova estética criaram outro nome para o futurismo e para os outros movimentos de vanguarda: a arte degenerada.
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Apesar de ser notadamente antifeminista, o futurismo também atraiu algumas mulheres. A escritora Valentine de Saint-Point (1875-1953) publicou o Manifesto da Mulher Futurista em 1912, em resposta a Marinetti, em que rejeita a divisão considerada correta por ele, em que homens são “superiores” e mulheres são “inferiores”, ela insiste que a humanidade é caracterizada por uma mistura do feminino e do masculino, e afirma agressivamente: "O que mais falta às mulheres, assim como aos homens, é a masculinidade. E para conferir mais masculinidade às nossas raças, fixadas na feminilidade, é preciso confrontá-las com a brutalidade. É preciso impor um novo dogma da energia aos homens e mulheres, para que a civilização finalmente atinja um nível mais alto". Houveram também algumas outras artistas nas artes plásticas e literárias, algumas até entusiastas do fascismo e outras que foram completamente esquecidas. Benedetta Cappa é uma das maiores expoentes da plástica do futurismo italiano, ainda que não tenha sido fácil se encaixar em um grupo abertamente machista, sabendo que “ser esposa de” não a tornava realmente relevante, ela teve muitas vezes, suas contribuições ao movimento ofuscadas pela figura de seu companheiro. Benedetta não apoiava a posição inferior da mulher dentro da vanguarda, e tentou subverter seu status no movimento futurista e na sociedade.
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O futurismo se desdobrou em uma série de outros movimentos de vanguarda, como o cubo-futurismo, que misturou elementos cubistas e futuristas, o surrealismo, o construtivismo, o vorticismo e nas manifestações do grupo dadaísta, que se assemelhavam as poesias futuristas, pela linguagem radical que economizava palavras e eram intencionalmente desordenadas, pautadas pelo desejo de choque e de escândalo.