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dadaísmo

O dadaísmo manifestou-se como um movimento de crítica cultural mais amplo, se comparado as outras correntes artísticas, questionando a arte e os modelos culturais anteriores e vigentes. Utiliza de diferentes e variados canais de comunicação, como revistas, manifestos, exposições, danças, marionetes, colagens, entre outros, para contestar os valores convencionais, não apenas da arte, mas da própria razão e lógica, representando uma ruptura radical. As manifestações dos grupos dada são intencionalmente desordenadas e pautadas pelo desejo do choque e do escândalo, até então comum nas vanguardas. A criação do Cabaré Voltaire, em 1916, na cidade de Zurique, na Suíça politicamente neutra, inaugurou oficialmente o dadaísmo. Sendo um clube literário, ao mesmo tempo, uma galeria de exposições e também uma sala de teatro, o Cabaré Voltaire promovia encontros dedicados a música, dança, poesia, artes russa e francesa, unificando as práticas artísticas em geral. A origem do termo “dada” foi encontrada por acaso numa consulta a um dicionário francês. Significa originalmente "Cavalo de brinquedo” e não guarda relação direta, nem necessária, com conceitos ou bandeiras, e daí surge seu valor, pois simboliza uma escolha aleatória, o princípio central da criação para os dadaístas, contrariando qualquer sentido de escolha racional.

O movimento se expandiu para diversas cidades com a formação de diferentes grupos, unidos pelo espírito do questionamento crítico e também pelo sentido anárquico das intervenções públicas. O ambiente mais amplo, que abriga várias manifestações dada, pode ser encontrado na desilusão e ceticismo estabelecidos pela Primeira Guerra Mundial, como uma reação ao horror sem sentido e ao suposto progresso social. Os grupos dada imaginaram uma arte tão absurda, quanto o mundo que enxergavam ao redor. Apesar de toda sua sátira inovadora e iconoclastia cultural, o dadaísmo permaneceu um movimento que abrigava a misoginia normalizada do início do século XX em suas fileiras vanguardistas. A marginalização das obras de mulheres artistas como, Elsa von Freytag-Loringhoven, Hannah Höch e Sophie Taeuber-Arp, refletem esse fato. Ainda que historicamente o movimento seja muito mais associado a seus protagonistas masculinos, essas três mulheres contribuíram significativamente para o dadaísmo, através de obras de arte feitas a partir de uma gama vertiginosamente diversificada de mídias, incluindo têxteis, colagens, cenografias, esculturas e objetos-esculturas encontrados. Suas práticas incluem até o pioneirismo da arte performática, que ainda permanece notavelmente atual, apesar de ter quase um século.

O dadaísmo não reconhece um estilo específico, nem defende novos modelos estéticos, colocando-se categoricamente contrário a projetos predefinidos, recusando todas as experiências formais anteriores. Nas artes visuais, é possível localizar como exemplo, o conceito ready-made, que constitui uma manifestação cabal do espirito que caracteriza o movimento, pois transforma qualquer objeto escolhido ao acaso em obra de arte, realizando uma crítica radical a organização artística. O termo é atribuído a Marchel Duchamp, mas em 1913, a caminho de um cartório para se casar com um barão pobre, Elsa von Freytag-Loringhoven pegou um anel de ferro na rua e o declarou Enduring Ornament, um dos primeiros ready-mades do mundo. Ao fazer isso, ela afligiu a concepção ocidental tradicional de uma obra de arte como algo necessariamente único e agradável, isso um ano antes de Duchamp e Francis Picabia fazerem o mesmo. Posteriormente, Duchamp apresentou à American Society of Independent Artists, um mictório invertido, assinado “R Mutt”, a que dá o título de Fountain, em 1917. A peça foi rejeitada e Duchamp, membro do conselho, renunciou. Alfred Stieglitz o fotografou. No entanto, nos últimos anos, surgiram dúvidas se Duchamp realmente comprou um mictório e o chamou de arte. Muitos historiadores da arte acreditam que esta peça que marcou época foi, na verdade, o trabalho de uma amiga dadaísta, a Baronesa Elsa von Freytag-Loringhoven (leia mais sobre isso na biografia dela abaixo). Assim, objetos utilitários sem nenhum valor estético em si, são retirados de seu contexto original e elevados à condição de obra de arte, ao ganhar uma assinatura e um espaço em uma exposição, museu ou galeria. 

O novo conceito artístico dadaísta apresenta-se como uma "vanguarda negativa", em que a “verdadeira arte” é a antiarte. O movimento dada nega as definições existentes do que é arte e a validação do que são objetos artísticos, como também as técnicas propriamente artísticas, produzindo “não obras de arte” e sim intervenções absurdas e inesperadas, utilizando materiais e procedimentos da produção industrial, despidos de seus usos e objetivos habituais. As ações perturbadoras do dadaísmo têm seu fim em 1922, mas repercutiu suas ideias em perspectivas artísticas posteriores. Na França, muitos artistas que integraram o dadaísmo, participaram do consecutivo surrealismo. Nos anos 1950, nos Estados unidos, alguns artistas retomaram algumas orientações no movimento da arte pop, não por acaso conhecida como neodada. O expressionismo abstrato e a arte conceitual também tiveram incorporações de algumas técnicas de criação dadaístas. A produção brasileira também foi impactada, não diretamente, pelas ressonâncias do dadaísmo, sendo observado em trabalhos de diferentes vertentes artísticas, cada qual ao seu modo. A utilização de procedimento próximos ao de assemblage (colagens com materiais tridimensionais) nos trabalhos de artistas da geração 80, como Rochelle Costi (1961) e Leda Catunda (1961), analisa-se o conceito dadaísta de ruptura entre arte e vida cotidiana.

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